Além de oficinas no Sesc, exposições no MARP e Museu Casa de Portinari começam nos próximos dias; eventos marcam os 50 anos de produção artística do mestre
 
 
 
As oficinas “Retratos”, que acontecem de 7 a 21 de novembro, no Sesc Ribeirão Preto, são uma oportunidade para o público conhecer e retratar a vida e a obra de Macalé, artista de imensa importância para a cidade, com uma trajetória resiliente e inspiradora, que tem muito a dizer por meio de seus pinceis. As oficinas serão ministradas por jovens artistas e, no encerramento da programação, o próprio Macalé estará presente para um bate-papo e para prestigiar uma exposição dos trabalhos realizados pelos participantes. Cada oficina vai abordar uma técnica diferente – pintura e fotografia.  
As atividades têm como tema o “retrato” e suas diversas formas de representação nas artes visuais, convidando artistas e o público geral a realizarem um retrato, abstrato ou não, do grande artista Macalé, em qualquer técnica e linguagem. As atividades são gratuitas e abertas ao público em geral. “Não é preciso ser artista nem mesmo iniciado nas técnicas a serem abordadas nas oficinas. O objetivo é ensinar um pouco de cada técnica para pessoas leigas. E a partir disso, elas vão criar retratos do artista”, explicou a cientista social e premiada fotógrafa Carolina Koff, uma das oficineiras. “Traremos recursos para repensar a construção de um retrato e, também, a desconstrução dele a partir de outras representações artísticas”, completou. 
 
O “Ano Macalé” é organizado por uma comissão formada pela filha mais velha do pintor, Márcia do Amaral Cruz, artistas, curadores, arquitetos, galeristas, historiadores e educadores. As oficinas são ações propostas por integrantes desta comissão: Carolina Koff, Camila Paulucci (arquiteta, arte-educadora e artista), Maisa Martinez (artista visual) e Nathallya Faria, artista convidada que realizou uma intervenção no MARP, pintando um retrato de Macalé no muro do museu.  
 
Também neste mês, o “Ano Macalé” apresenta duas exposições individuais do artista; uma delas no MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto) e a outra no Museu Casa de Portinari, em Brodowski. A mostra no MARP será aberta no dia 22 de novembro e poderá ser visitada até 18 de janeiro. Já a exposição em Brodowski acontece de 8 de novembro a 1 de dezembro. 
 
TALENTO À FRENTE DE SEU TEMPO 
 
Macalé é o nome artístico de Jaime Domingos Cruz, 84 anos. Ele começou a expor e a comercializar seus trabalhos na chamada “feira hippie”, a feira de artes da Praça XV de Novembro, na década de 1970.  
 
 
Depois disso, realizou atividades educativas, mostras individuais e coletivas em museus, bares, galerias e no Memorial da América Latina, em São Paulo, além de outros eventos culturais em diversas cidades brasileiras, recebendo prêmios.  
 
Bem antes disso, com pouca idade, já produzia arte. E jamais parou de produzir, embora também nunca tenha deixado de exercer paralelamente outras profissões para garantir o sustento da família.  
 
A primeira obra vendida na Praça XV custou Cr$ 127 cruzeiros. Exatamente o valor do salário mensal que recebia como pedreiro contratado pela construtora Alfredo Fritz. 
 
Autodidata, Macalé começou a pintar usando tinta a óleo, a mais difícil de manipular, pela dificuldade em criar linhas precisas com ela.  
 
Foi o ofício exercido na época que o ajudou a criar a técnica que ainda utiliza: “Ganhei cinco tubos de tinta a óleo e um pincel usado, que seriam jogados no lixo. Resolvi diluir a tinta e experimentar a mesma técnica que usava na construção, misturando cal e esmalte”, contou o artista visual, que até pouco tempo atrás pintava à noite para trabalhar de dia como pedreiro, pintor de parede ou decorador: “Nunca pude me dar ao luxo de recusar trabalho”, explicou Macalé, que na infância e adolescência também trabalhou no corte da cana de açúcar, escavou poços e foi entregador de marmitas e de jornal.  
 
Nascido em Orlândia, em 1940, já na primeira infância Macalé conheceu um racismo ainda mais ferrenho que o atual. “Na escola, era muito apelido. Eu tinha uns seis anos e já brigava muito por isso. Eles vinham me atacar, eu reagia. Mas era sempre eu quem ficava de castigo”, contou.  
 
Macalé participou de movimentos de cultura negra, montando peças de teatro, fazendo música e exposições, sempre divulgando a cultura afro-brasileira e a arte contemporânea no Brasil e vendeu obras para outros países.  
 
De temas diversos, a arte de Macalé revela o pensamento e a vivência de um artista talentoso e à frente de seu tempo. “Devastação da natureza” é uma das séries iniciadas na década de 1990. As chamas incandescentes dominando as paisagens não deixam dúvidas de que o artista já estava atento aos incêndios que, hoje, ameaçam de extinção nossos biomas e residências. Crianças brincando nas ruas e baianas à beira-mar também são recorrentes em sua obra, assim como as casas e prédios que fazem parte de uma das séries mais famosas do artista: “O sol nasceu para todos”. 
 
“Penso que todo indivíduo deveria ter uma casa pra morar. Politicamente, é uma das coisas mais difíceis de conseguir e uma das mais importantes. É o que dá segurança, dignidade, a uma família”, afirmou o artista, casado há quase 60 anos com Maria Benedita do Amaral Cruz e pai de quatro mulheres e de um homem. “Quando eu consegui fazer minha casinha, colocar a primeira telha em cima, foi a coisa mais linda, saí fora do aluguel”, contou Macalé, que construiu a casa própria com suas mãos. 
 
SERVIÇO 
De 7 a 21/11. Quintas.  
Sesc Ribeirão Preto - rua Tibiriça, 50, Centro. 
Oficina Retratos 1Oficina sobre fotografia  
Com Carolina Koff e Camila Paulucci 
Vagas: 15 vagas por ordem de chegada  
Quando: 7 de novembro - das 19h30 às 21h30 
 
Oficina Retratos 2Oficina sobre pintura e desenho  
Com Nathallya Faria e Maisa Martinez (Policromia Sentida) 
Vagas: 15 vagas por ordem de chegada  
Quando: 14 de novembro - das 19h30 às 21h30 
 
Exposição e bate-papo 
Com Macalé 
Indicação etária e vagas: livre 
Quando: 21 de novembro - das 19h30 às 21h30 

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