18 fev/14

Toda forma de amor

postado por Diogo Branco

Rio de Janeiro, praia de Copacabana.

Acostumado a estar sempre rodeado de amigos, resolvi desta vez caminhar sozinho à beira-mar, observando a quantidade de turistas que me cercava. Quase não se ouvia português, e enquanto os gringos viravam camarões debaixo de um sol escaldante, meu passatempo era tentar adivinhar o parentesco das supostas famílias, ou o grau de relacionamento das pessoas: Loirinha branquela de olhos azuis, adolescente e de mãos dadas com um robusto quarentão também branquelo de olhos azuis: Pai e filha. Senhora sessentona, rosto em relacionamento sério com Botox , toda empetecada, cabelo engomado e mãos dadas com um homem de corpo sarado na faixa dos 30. Namorados, ou mãe e filho. A princípio, meu passatempo estava em nível de fácil para médio. Aí as coisas começaram a complicar: Era homem com homem, duas idosas de mãos dadas, um homem sozinho carregando um menino de colo... Desisti. Sentei-me na areia e comecei a refletir sobre os novos modelos de família que estão por aí, e em como a humanidade está reinventando o universo dos relacionamentos. Se dizem que o casamento mudou nos últimos cem anos mais do que nos 10 mil anteriores, imagino que nos próximos 10 anos mude mais do que nos últimos cem. Uma vez fui fazer trabalho escolar na casa de um amigo gay, e fiquei na sala esperando que ele terminasse de tomar banho. Eis que surge sua mãe, cabelo comprido bem liso, batom vermelho-escarlate, corpo cheio, minissaia justa exibindo coxas bronzeadas, e seios quase estourando na blusa de malha colante. Exalando sexo. Como diria um conhecido, eu ''pegaria fácil'' se não fosse a mãe do meu amigo.
’’Você é o Diogo?’’ E foi conversando comigo, toda sorrisos. Sentou-se ao meu lado e, entre um assunto e outro, colocou as mãos sobre as minhas pernas. Me disse que estava divorciada há muito pouco tempo e que sentia falta de alguém, principalmente para curar sua ‘’carência na cama’’ ( com exatamente essas palavras ). Constrangido, perguntei se havia algum outro banheiro na residência que eu pudesse usar, com o claro objetivo de fuga. Concluído o trabalho escolar, saí daquela casa bolando hipóteses. Se acaso eu tivesse resolvido tirar a tal carência na cama daquela mulher, os conservadores iriam me apedrejar: Primeiro por eu ser muito mais novo que ela, segundo por estar me envolvendo com a mãe de um amigo, e terceiro pelo fato dele ser gay. Se eu firmasse um relacionamento mais sério com ela, eu me tornaria padrasto do meu amigo. Olha que loucura. Mas a história não acaba aí. Um semestre se passou, e o encontrei casualmente num boteco. Ele comentou que sua mãe havia me adorado, e inclusive perguntado se nós estávamos namorando. Eu e ele. Ou seja, naquele episódio ela só estava sendo educada e me tratando como o suposto namorado do seu filho. E não tinha me flertado. Ufa. Depois de me lembrar desse acontecimento, levantei da areia e fui ao encontro do guarda-sol onde estavam meus amigos. No caminho, me espantei um pouco com a minha forma de pensar. Sempre tive amigos dos estilos mais variados possívels: Roqueiros, surfistas, jogadores de futebol, músicos, atores...Cada um com sua filosofia. Do machão que adora se gabar com ‘’a gostosa que está pegando’’, às amigas lésbicas que me chamam pra mostrar a nova música que estão tirando no violão. E nunca me meti na escolha alheia. Em Ribeirão Preto, cidade onde moro, tenho uma amiga casada que resolveu não ter filhos, e já me cansei de presenciar pessoas questionando tal decisão.  Minha vontade era dizer a essas pessoas: Deixa ela ser feliz! E se resolver se separar, que se separe! Se resolver fazer uma tatuagem aos 90 anos ou pintar o cabelo de vermelho e fazer topless na praia, que faça! Embora a sociedade ainda caminhe com ‘’passos de formiga e sem vontade’’, estamos aos poucos deixando de ser ‘’como nossos pais’’ e percebendo que ‘’o novo sempre vem’’. E eu sigo cantando Lulu: Considero justa toda forma de amor. Felicidade, liberdade e respeito sempre !


Diogo Branco
Farofeiro, Músico

Site cultural de Ribeirão Preto

Desde 2013 propagando arte e cultura.