13 mai/14

Ângela Maria - Vida de Bailarina

postado por Diogo Branco

VIDA DE BAILARINA
"Obrigada pelo ofício/A bailar dentro do vício/Como um lírio em lamaçal/É uma sereia vadia/Prepara em noites de orgia/O seu drama passional/Fingindo sempre que gosta/De ficar a noite exposta/Sem escolher o seu par/Vive uma vida de louca/Com um sorriso na boca/E uma lágrima no olhar"

Hoje comemora-se o aniversário de Ângela Maria, a mezzo-soprano que se tornou a estrela mais reluzente da canção brasileira da década de 50. Com uma boa extensão vocal e respiração exemplar, a Sapoti conquistou de imediato o Brasil e seus trinados ajudaram a firmar a era do samba-canção e dos boleros.



Quando soube do aniversário dessa grande cantora, me veio à mente um episódio por mim vivido há pouco:
Dia desses recebi uma ligação de uma amiga que há muito tempo não vejo. Como sou conhecido pelos meus amigos (e pelos amigos dos meus amigos) como um bom “ouvinte” dos problemas alheios, não me espantei com sua primeira frase ao telefone: “Eu preciso desabafar”. Dentre as dezenas de problemas ditos nos primeiros cinco minutos, um deles envolvia a sua profissão. Cantora de banda de baile, ela me dizia estar vivendo sobre os palcos o que ela chamou de  “prostituição musical”, o que me fez rir. Eu explico: Ela não estava se envolvendo com nenhuma das canções do repertório, e mesmo assim, sorria e dançava pensando na grana que receberia ao final do show. Imediatamente, lembrei da canção “Vida de Bailarina”, de Angela Maria, e cantei um trechinho pra ela, um pouco antes dos créditos do meu celular acabarem (como de prache). A canção retrata os embates gerados pela mercantilização da vida afetiva através da encenação de uma mulher que negocia um espaço para trabalhar: Trata-se da personagem principal, uma bailarina em conflito, como revela o refrão:
"(...)Que ela é forçada a enganar, não vivendo pra dançar, mas dançando pra viver".
Que a vida de um artista é um circo todo mundo pode imaginar. Ensaios, shows, divulgações, e... contas pra pagar. É de se esperar que, por vezes, nosso trabalho se torne tão cansativo que o “prazer em fazer” saia dar uma voltinha. Fui saber mais tarde que a música de Angela Maria foi escolhida por ela exatamente num momento de sua vida em que ela vivenciava essa crise. Incrível como, quando um intérprete escolhe uma canção que reflete um pouco sobre sua vida ou que ao menos toque de alguma maneira sua alma, isso transparece ao público de uma maneira muito natural, o que facilita a interpretação e a entrega à música. Angela Maria soube interpretar essa canção como ninguém, se tornando, inclusive, a maior referência musical para Elis Regina (que posteriormente assumiu que a imitava no começo de sua carreira).
Hoje, dia do aniversário dessa grande cantora, deixo abaixo um vídeo que registra o encontro de duas vozes que ainda emocionam o Brasil:



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