"Não existe mais quintal. Não como antigamente. As pessoas faziam questão de ter um bom quintal em casa, se reuniam ali...Vejo cada vez menos isso. É raro. Eu tinha um quintal na minha infância, que ainda existe, na casa de minha mãe."
É com uma saudade interiorana que Maria Bethânia explica o título de seu recém-lançado "Meus Quintais", o 51º da cantora.
O repertório viaja num Brasil rural. Um Brasil caboclo, cancioneiro, indígena. Em suas treze canções, o toque baiano é evidenciado em alguns momentos, e ocultado em outros, mas sempre funcionando como um aditivo de realimentação às raízes folclóricas contidas no álbum.
Sem grandes ornamentos orquestrais, a voz , irretocável como é de se esperar, se mostra como ingrediente principal do álbum, que ainda presenteia seus ouvintes com a inserção de um texto de Clarice Lispector na faixa "Iara" (inédita de Adriana Calcanhoto).
Maria Bethânia surgiu para o público como apenas e exclusivamente uma voz. Cantou para um teatro lotado, na Bahia, atrás das cortinas, no início de uma peça teatral . O público se impressionava a cada sessão com a voz daquela garota desconhecida. O espetáculo começava com uma força ímpar, associado àquela voz da menina de 17 anos. O sucesso, imediato e perene, sempre esteve associado com seu timbre, sua potência vocal, sua noção de divisão, enfim...sua voz peculiar. A preocupação com a imagem, que engessa tantos artistas atuais, nunca foi preocupação para a cantora. Sua voz basta.
Trata-se de um elo voz-pessoa. É indissociável.
Que venham sempre mais frutos dos quintais de Maria Bethânia.
Diogo Branco é apaixonado por música.
Ah, e farofeiro também.